A guerra colonial também foi uma ruptura em cada um de nós. Deixou-nos muitas interrogações. Foram-nos ensinadas muitas técnicas de combate, algumas de sobrevivência, e só raramente fomos preparados para o regresso à vida civil.
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publicado por Alto Chicapa, em 06.02.10 às 01:08link do post | favorito

Alto Chicapa 1972/74


Jean de La Bruyére disse: “a vida é uma tragédia para aqueles que sentem e uma comédia para aqueles que pensam”.

 

Para mim, a vida deve estar entre o sentir e o pensar, entre a tragédia e a comédia, porque só sentindo uma tragédia, saberemos o que é uma comédia, só estando envolvido entre risos e gargalhadas, saberemos o que é o mais triste dos dramas, só sentir não basta, só pensar é insuficiente…
 

Foi sem grandes risos ou pensamentos, que vivi durante dois anos e meio, entre 1972 e 1974, num mundo diferente, cheio de mistérios, de valores, de usos e costumes muito primitivos, numa região isolada muito pobre onde se travava uma luta constante com a natureza para a sobrevivência, e onde a mulher, paciente e activa, tomava conta de tudo e tinha tempo para ser fêmea e mãe dedicada.


Num raio de 300 kms residiam apenas meia dúzia de europeus.


Durante aquele tempo, senti, que, em silêncio, o povo sofria… com os fantasmas dos feitiços, com a prepotência dos chicotes dos cipaios, com a ignorância do colonos a cilindrarem tradições, com os militares a destruírem resistências e com a administração colonial a deslocar estrategicamente as aldeias.
 

Em 1975, depois da chamada guerra colonial ter terminado, vivíamos uma época em que muitas pessoas se interrogavam sobre o que efectivamente tinham feito os portugueses em África, onde os heróis já tinham caído com o rolar das estátuas, o arrear apressado da nossa bandeira sem uma digna passagem de testemunho, o abandonar de um povo a uma guerra civil e a realidade, ignorada pela revolução dos cravos, Generais Spínola e Costa Gomes incluídos, da aliança secreta anteriormente estabelecida entre Portugal, África do Sul e Rodésia para o plano de defesa para a África Austral denominada Exercício Alcora ou PAPO (em inglês), Organização Permanente de Planeamento Álcora, onde Portugal transferia para a África do Sul a capacidade de dirigir as forças militares para terminar com o “terrorismo”.


Publicar estes textos e o documento Tchicapa, o final da viagem, numa época em que toda a actuação portuguesa era posta em causa, não era tarefa fácil. A corrida política e económica para África e o choque entre grandes potências transcende em muito os temas que escrevi, que são a outra face da realidade, a da verdadeira África, que eu, europeu, gosto.
 

 

Prestes a dar por concluída estas breves reflexões, resta-me dizer, que foi tudo projectado para não deixar morrer as nossas memórias, sempre assentes num conjunto de acções e de afectos e sustentadas num passado que naturalmente, importa considerar.


Ao Sá Moço, e a todos, que directa ou indirectamente leram e possibilitaram a apresentação destes textos, obrigado.
 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 03.02.10 às 22:56link do post | favorito

Alto Chicapa 1972/74

 

Eu gostava de falar com ele. Era um homem do Tchicapa que sabia contar coisas fabulosas sobre a guerra entre tribos, dos primeiros espelhos, de princesas raptadas por homem branco, dos revoltosos em 1961 e dos acontecimentos contra os colonos.
 

Falava-me de pedras com feitiço onde estava gravado o pé da Rainha N’Ginga e dos guerreiros invisíveis que logravam vencer tudo e todos e de tantas coisas que um branco, como eu, vindo de outra civilização, nunca sonhou ser possível.
 

E, também falava da família e dos seus filhos. – Um é assim, o outro assim, dizia ele, alteando a mão do solo, para me explicar o tamanho dos filhos.
 

Mas os seus olhos, perdiam vivacidade e todo o entusiasmo quando me falava do chefe de posto (kaputu) e dos cipaios quando faziam as rusgas na aldeia, durante o tempo das colheitas, e obrigavam muitos a ir trabalhar, debaixo do chicote, dos momentos difíceis durante a permanência dos combatentes da FLNA, e… quase chorava.
 

Depois voltava, a ser o mesmo, a desviar a conversa e explicava-me com todos os detalhes como se vivia no quimbo.
 

Não lhe conheci qualquer tipo de traição, mas era um teimoso, um negociador a favor dos seus e… apoquentava-se abertamente quando as coisas poderiam correr mal.
 

Sá Moço, um companheiro na selva, na guerrilha e no dia-a-dia, também foi, nestes textos, uma denúncia frontal para que não adormeçam as memórias e simultaneamente uma afirmação de esperança e confiança na vida.
 

Alto Chicapa / Angola, uma fonte inesgotável de ensinamentos, de emoções e de mistério.
 

A seguir - Conclusão

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 31.01.10 às 14:29link do post | favorito

Alto Chicapa 1972/74


A lua e o sol
A lua era a companheira da noite, do mal, da doença e até da morte. O sol era a luz, o dia, a vida, a saúde e o alimento dos homens na terra.
 

Por este motivo, as conspirações, os acordos, os ditos, as estórias e as lendas, só eram contadas à luz da lua ou de uma fogueira.
 

Cidade de Saurimo
Saurimo deriva de Sá Urimbo, um chefe quioco que habitava aquela área onde foi fundada a cidade, também chamada de Henrique de Carvalho em homenagem ao general português.

 

General Henrique de Carvalho e o Muatianvua Sá Madiamba - Foto obtida, em 1973, de um quadro de 1886, existente numa das paredes da Tasca do Mais Velho (restaurante) na povoação do Cacolo / Saurimo.

 

Sá era título de paternidade dado a todos os homens que eram pais.

 

Depois da independência de Angola a cidade voltou a ter o seu nome inicial.
 

Administrador do Alto Chicapa
Chamavam-lhe o Kaputu.
 

Atitudes
A mão direita era usada para comer, para cumprimentar, oferecer, receber e para todos os actos de rotina, enquanto a mão esquerda era reservada para tocar nos órgãos sexuais e para excitar a mulher antes do acto sexual.
 

As pinturas brancas no corpo, com que apareciam muitas vezes, eram feitas com caulino (Pemba), significavam o bem, a verdade, a vida e a saúde.
 

Faziam segredo das atitudes mais intimas, tinham vergonha de gazear ruidosamente ou de satisfazer as suas necessidades fisiológicas se alguém estivesse nas proximidades.
 

Os homens usavam na cabeça, pequenos pentes de madeira (tissaculo?), alguns com arte e gosto.
 

 

Algumas palavras

Lunga           - Homem

Pfwo              - Mulher
Mwana          - Criança
Kanuke         - Moço(a)
Demba         - Galo
Tchari           - Galinha
Zambi           - Deus
Mwalva         - Sol
Kakweji        - Lua
Kai                - Cabra do Mato
Lukutu          - Pénis
Sundji           - Vagina
Meia              - Água
Lwiko            - Colher do pirão
Makoso        - Lagartas comestíveis que viviam na arvore Mukoso
Moyo             - Saudação
Moyo weno  - Saudação com mais respeito
Muata           - Chefe da aldeia
Muatianvua - Nome dado ao imperador do Império da Lunda
Jimbo           - Machado pequeno
Mutopa         - Cachimbo de água

 

 

 

A seguir - Sá Moço

Depois - Conclusão e final

 

Carlos Alberto santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 11.01.10 às 23:43link do post | favorito

Alto Chicapa / Angola 1972/74

 

Numa época e numa região onde a divisão sexual, era em tudo notada, o homem ficava com todos os trabalhos que exigiam uma apreciável força física, a construção da casa, o derrube de árvores, a caça, o auxílio da família, a compra de panos para as mulheres e do vestuário para os filhos. A mulher era responsável por todos os trabalhos domésticos, tratava da casa e dos filhos, ia à água e à lenha, preparava e cozinhava os alimentos, trabalhava nas lavras e ia à pesca.
 

Era na época das chuvas, com início em Setembro, que a mulher preparava as sementeiras na lavra.
 

 

A mandioca, a base da alimentação do povo quioco, era plantada por estacas, três a quatro em cada montículo de terra, com as pontas afastadas. Nos intervalos, em buracos abertos com o calcanhar, semeavam ainda milho e feijão.
 

Na altura das mondas, do capim, muitas mulheres juntavam-se nas lavras, numa enorme barulheira, para se ajudarem mutuamente.
 

Para protegerem as culturas dos animais, javalis, macacos e pássaros, erguiam, em redor da plantação, paliçadas de paus e penduravam diversos objectos para produzirem ruídos ao sabor do vento.
 

Próximo da aldeia, mantinham pequenas sementeiras de amendoim e tabaco.
 

A agricultura era muito primitiva, não faziam a rotação de culturas e não utilizavam estrumes.

 

 

Os instrumentos de trabalho também eram escassos, havia uma pequeno machado / enxada (jimbo), um machado maior para o derrube de árvores e uma catana para o desbaste da mata e a abertura de covas.
 

 

A farinha de mandioca era obtida por métodos muito tradicionais.

  • Desenterravam os tubérculos quando estavam maduros, mas só os necessários;
  • Eram descascados;
  • Maceravam-nos no rio durante uns dias para perderem os componentes tóxicos;
  • Depois, ficavam estendidos ao sol, durante algum tempo, em pequenas esteiras sobre o telhado de colmo das casas;
  • Depois de cortados aos bocados, eram pisados com um pilão num grande almofariz de madeira (tchino); e
  • A farinha resultante era peneirada com a ajuda de um cesto tubular.

 

Depois destas operações, faziam por cozedura o funge, uma papa espessa com água que era constantemente mexida com uma colher de pau de cabo arredondado e terminada em forma de espátula (lerico(?)).

 


Quando as mulheres tiravam a panela do lume, continuavam a mexer aquela papa durante algum tempo, e era interessante vê-las a manterem a panela sempre segura com os pés.
 

 

Com as folhas tenras da mandioca ainda faziam uma espécie de esparregado, que era temperado com óleo de palma e gindungo, acalmavam as mordeduras de abelhas e as feridas da varicela. O pó que restava dos tubérculos depois de torrados servia de calmante e desinfectante para os ferimentos.


As maçarocas do milho, ainda na forma leitosa, eram comidas assadas. O milho depois de maduro era usado para fazerem bebidas, e só raramente era transformado em farinha.
 

O feijão, sempre cozido e temperado com óleo de palma, também acompanhava o funge.
 

A batata-doce, que eu tanto apreciava, era assada com a casca.

 


 

As frutas silvestres, as bananas maçã, o abacaxi e os maboques (laranjas do mato), os cogumelos, o mel, os ratos do campo, os gafanhotos, as lagartas das plantas e as formigas de asas também faziam parte da alimentação.

 

Normalmente faziam duas refeições, que eram realizadas quando tinham mais fome (nzala). A da manhã, era a mais simples, constituída por funge ou batata-doce, e a do fim do dia, a principal, era a mais completa.
 

Sobreviver era preciso, e, acreditem, era mesmo assim a dura lei da vida na selva!
 

Num alambique muito rudimentar, constituído por uma panela, tapada por metade de uma cabaça, de onde saia um tubo, tipo cano de água, a servir de serpentina e que atravessava um lata cheia de água fria, destilavam milho, mandioca e alguns frutos selvagens, que originavam em conjunto ou em separado uma aguardente a que davam o nome de Catchipembe.
 

O tabaco, plantado junto da aldeia, era largamente apreciado como rapé e para fumar. A mulher também fumava, usava um cachimbo simples e os homens cachimbos de água (mutopa).
 

Além do tabaco, cultivavam o muito divulgado cânhamo, que era mais conhecido por maconha ou liamba. Havia algumas plantações isoladas, que eram proibidas pelo posto administrativo, mas em nada eram controladas.

 

As plantas, que conheci, com a altura de um homem, tinham folhas médias e um pouco rendilhadas, davam flores esverdeadas e um fruto parecido com um grão. O cheiro, incaracterístico, era difícil de se esquecer quando se passava por perto. No final do período vegetativo a planta largava uma cola que era vendida para, noutros locais, a transformarem em haschich.

 

Localmente limitavam-se a fumar algumas folhas misturadas com tabaco, e só os mais viciados fumavam, a cola, os caules e os frutos triturados com as folhas, até lhe chamavam “Sá Num Zanga” (Senhor de que se gosta e não se consegue esquecer).

 

Os efeitos eram nefastos e muito tóxicos para a mente, transformando por completo homens ou mulheres.
 

Para terminar, resta-me uma pequena referência à preparação do fogo. Muitas vezes ainda era feito pelo homem, por fricção de dois pedaços de madeira encostados a uma espécie de lã de casca de árvore, de resto o uso dos fósforos ou do isqueiro a petróleo estavam totalmente generalizados.
 

A seguir - Afrodisíacos

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 20.12.09 às 22:45link do post | favorito

Alto Chicapa 1972/74

 

Pelo seu trabalho em casa e nas lavras, e pela maternidade, a mulher assumia uma função económica e social abrangente. Cabiam-lhe as tarefas mais árduas e uma posição importante na comunidade, qualificada e não deprimente, e nunca inferior à do marido como se poderia pensar inicialmente.
 

 

Era desde tenra idade que o seu casamento era ajustado. Durante a fase da infância, a sua educação processava-se no convívio da família. Na adolescência, já muito independente, em tudo, gozava de uma ampla liberdade sexual, concedendo os seus favores a quem lhe agradava. Depois, durante o noivado, tornava-se exigente na forma e na frequência das visitas, e como desejava ser presenteada pelo homem que será o seu futuro marido, caso contrário era esquecido.
 

 

Quando chega a primeira menstruação, retira-se para a casa das raparigas menstruadas onde aprende tudo o que uma mulher deveria saber (ler mais aqui).
 

Depois de pago o dote de casamento aos pais é colocada em casa do marido, assumindo dai em diante uma posição social importante e legitimada para uma união sexual reprodutiva.
 

A nova fase da vida da mulher muda completamente, e é feita de inúmeras atribulações, onde até as relações sexuais e os contactos com o marido lhe serão dispensados à vez ou por turnos.

 


O casamento, que era indissolúvel, podia ser interrompido pela morte, pelos maus tratos ou pela esterilidade da mulher.


Perante a esterilidade feminina, Sá Moço dizia: - Mulher infecunda é mulher moribunda, mas… em muitos casos é o marido, o responsável, que, pelo excesso de mulheres, a idade avançada ou a incapacidade nas suas faculdades, fica inapto para a sua acção procriadora.

 

Por isso, é frequente, devido ao desejo de maternidade, que prevalece sobre qualquer outro sentimento, arranjar um homem, com ou sem o conhecimento do marido, para lhe dar os filhos desejados.
 

A mulher era sempre desejada, por dar a vida, e ser a obreira da família e do poder económico, mas também era temida, por na menopausa ter mau humor e a acharem com poderes maléficos, e daí a considerarem, algumas vezes, uma feiticeira.
 

A seguir - A alimentação

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 20.10.09 às 14:04link do post | favorito

Naquela época (1972/74), os medos e os feitiços ocupavam um lugar de muito destaque na vida do povo e das aldeias (quimbos) ao redor do posto administrativo do Alto Chicapa, no município do Cacolo.

 


Confesso! Quando hoje penso, naquela carga psíquica, acho, que só serei capaz de escrever simples e despretensiosos apontamentos para temas tão complexos, onde, tantas vezes, me senti incapaz de fazer juízos e compreender muitas das representações e manifestações colectivas.


Era um mundo sobrenatural, cheio de contrastes.


Acreditavam e temiam a um Deus supremo, Nzambi, que rege o mundo e os homens, e, simultaneamente, também aceitavam a existência dos espíritos, quase sempre maus, que andavam perdidos na noite em lugares solitários. Parecia-me tudo tão estranho e de difícil entendimento, mas, sinceramente, era uma fonte inesgotável de emoções e de mistério. Tantas vezes, comparei tudo isto com a crendice do povo das nossas aldeias, nas almas penadas e nas do outro mundo.
 

Na doença, quando achavam que os espíritos se tinham apoderado do corpo realizavam uma mahamba, uma cerimónia onde parecia estar-se num mundo de magia, cheia de elementos adjuvantes, amuletos, muitas pessoas a assistirem ou a dançarem com a música dos thinguvos e dos gomas e um final… cheio de mistérios, numa possessão assustadora.


Na morte, diziam que o espírito do falecido não ia ficar tranquilo e sossegado além-túmulo, se não lhe fossem feitas as devidas cerimónias festivas, durante uma ou em várias noites, com muita comida e bebida, num longo batuque. Tudo feito, como sendo a condição indispensável à sua dignidade e ao seu sossego. Todos, mesmo todos, acreditavam, que se tal cerimónia não existisse ou não fosse digna, o falecido transformava-se num espírito mau, atormentando a aldeia.
 

O feiticeiro (tchinganga), manobrando na sombra, sem ninguém o ver ou o conhecer, era muito temido. Achavam-no poderoso, e com capacidades para causar, mesmo à distância, terríveis malefícios aos corpos e aos espíritos. Todos conheciam, muito bem, as formas de actuação, os venenos colocados na água ou na comida e os castigos emanados, à distância, por estatuetas ou forças espirituais. O medo do feitiço determinava a qualidade da vida do povo e levava-os a optarem por um dia-a-dia sem grandes haveres ou desejos e a pensarem, que amanhã podem estar mortos.

 


Sá Moço, dizia, tantas vezes, o futuro pertence a Nzambi (Deus), aos espíritos e aos feiticeiros.


Quando o questionei sobre estes assuntos, ficou… “cá, cá…” assustado e sem fala.


Mesmo assim, algumas semanas depois, lá consegui ouvi-lo dizer:


- O tchinganga é poderoso! Não se pode andar por aí a falar dele! Se suspeitar que alguém o descobriu troca-lhe o espírito e a personalidade, para nunca mais se lembrar do passado.


- Na aldeia… só mata ou faz adoecer as pessoas más e os assassinos, e… quando a justiça do chefe de posto poupa os malfeitores.


- Eu não sei nada! Os mais velhos é que contam! Durante a lua nova, entre danças e ao som, imperceptível, de um instrumento mágico, reúnem-se todos, debaixo de uma grande árvore, junto da Gruta do Museke (no Alto Chicapa, entre o rio Cuilo e o rio Luchico – estive lá – Latitude 10º 50´ Sul e Longitude 19º 12´ Este).


- O chefe da aldeia, diz: Ninguém deve ter medo do feiticeiro, ele é apenas um ser invisível, com poderes sobrenaturais, a qualquer momento, só castiga os criminosos, os imorais e quem não respeite os costumes.
 

Enquanto estive no Alto Chicapa, foi fácil perceber que a administração colonial do posto sabia conviver tacitamente com esta crença lendária, talvez por exercer uma acção benéfica e dissuasora contra os assassinos e os malfeitores.

Efectivamente, apesar do medo, ouvia-se nos quimbos: O feiticeiro nunca mata ninguém sem ter um bom motivo, porque até um engano trás o feitiço de volta para liquidar o autor do feitiço ou um elemento da sua família.


No entanto, no meio de toda esta crendice e medo, ainda havia pessoas sem escrúpulos que se aproveitavam da situação para práticas especulativas e abusos em proveito próprio.
 

Finalmente! Convivi com algumas pessoas, ditas mais cultas, aprovadas em estudos liceais, próximas da cultura europeia, que afirmavam terem deixado de acreditar nestas crenças e até diziam, são “matumbos”, mas… lá no fundo, nunca estavam tranquilos e felizes, acabavam por ficar apáticos e derrotados com o medo do poder dos espíritos e dos feitiços… deixavam de conhecer o amigo e era muito difícil traze-los de novo à realidade.
 

A seguir - A doença

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 09.10.09 às 23:33link do post | favorito

O batuque dos Muquixes era a dança mais exótica do folclore na região do Alto Chicapa (Lunda Sul).
 

 

O Muquixe, era um mascarado. Vestia-se, cobrindo todo o corpo, com “fatos” feitos de vegetais, de cascas de árvore, tecidos velhos e de cordas. A cabeça e a cara eram tapadas por uma máscara, geralmente muito pouco simpática. Nas mãos agitavam pequenos chicotes, tendo na extremidade pequenas bolas que emitiam sons intimidatórios, como se fossem matracas.
 

 

Apareciam no batuque, de uma forma quase sempre inesperada, pulando, agilmente, em deslocações rápidas e de uma forma desengonçada. Os seus bailados, acompanhados de uivos, eram geralmente muito acrobáticos.
 

 

Estes batuques, como são feitos de dia, em tardes cheias de sol, são os mais frequentados, pelo muito povo, vindo de todos os lados, de muitos e muitos quilómetros de distância.

 

As jovens, em maior número, aproveitam o dia para ostentar os seus panos garridos, alguns penteados, os enfeites naturais e dentes imaculadamente brancos. Os panos e algumas missangas, estrategicamente presos à cintura, mostravam um tronco semi-nu, bem torneado, de onde emergiam tensos seios.
 

Era um dia de festa, ardente e tumultuosa, com cânticos ritmados, batimentos de palmas e danças em grandes rodas.
 

Os meus apontamentos, da época, ainda me recordam, mais ou menos, isto:
- Tchikai mbongo menda (a mulher e o homem andam).
- Coro – Wóhó! Yaya! Ahééé!
- Xouyée, makutu (agita o pénis).
- Coro – Yóó hóó yóó hóó
- Mu Tchenge… (A mulher bonita…)
- Coro – Heya heya yelé hehe
- Coro – Yéóléé… Há! Hó! Hou! Hewa!
 

Repentinamente, ouvem-se vozes agitadas e gritos estridentes. Num abrir e fechar de olhos todas as mulheres fogem às gargalhadas, gritando Muquixe!... Muquixe!...
Sempre que um dos bailarinos corre em direcção ao local das jovens, a mesma cena vai-se repetindo várias vezes, Muquixe!... Muquixe!...
 

 

Em complemento, Sá Moço dizia-me:
- Em tempos, alguns feiticeiros, aproveitavam-se do traje para espalharem o medo nas pessoas, praticarem violações em caminhos isolados e malefícios no quimbo, durante a noite.
 

Naqueles anos setenta, pude sentir, que o povo quioco, mesmo continuando a temer, profundamente, os feiticeiros, materializou estas lendas com a figura do Muquixe, que cobria o rosto para que não fosse reconhecido, modificava a voz, com o intuito de não denunciar a sua condição de mascarado, assegurando-lhe uma origem sobrenatural e mágica. Mesmo assim, nutria um grande respeito divertindo-se com eles nas festas, mas não restavam dúvidas que o traje e a própria máscara eram uma fonte inesgotável de emoções e de mistério num evento poderoso na sua vida social e psíquica.
 

A seguir - Duas palavras sobre medos e feitiços

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 17.09.09 às 00:18link do post | favorito

Adormeci muitas vezes na região Luatamba / Canage, em Angola, ao som dos “tambores” tocados num batuque lá longe, a realizar-se algures. É claro que um batuque é o oposto de uma canção, os seus ritmos são nervosos, um pouco bárbaros e não nos deixam dormir. Ficava a ouvi-los pela noite fora, trazidos pelo vento à mistura com os sons da selva, até que o sono me vencia.
 

Assisti a alguns, e não é sem uma ponta de saudade que os recordo a todos.
 

Era uma vez um batuque que se realizava na sanzala de Samunge, perto do Alto Chicapa, e cujo rufar dos tambores me impeliam a ir até lá. Já na tarde anterior eu tinha lá estado, a assistir ao batuque dos mais novos.
 

 

Desta vez, era o batuque dos adultos, a noite da Tchisela, um batuque "a sério".
 

Um batuque, é mais do que uma dança, são cânticos, movimentos e atitudes, que se projectam intensamente em todos os momentos da vida deste povo. Está presente em cerimónias de simples diversão, de magia e em diversos rituais, como a iniciação dos jovens ou o casamento. É pobre, na coreografia das danças e na letra das músicas, mas em contrapartida, há muita vida, um ambiente misterioso, muita sensualidade e intensos momentos de emoção, beleza e alegria.

 

Sá Moço, com ar de quem sabe, dizia-me para ir até lá, que há muitos mistérios escondidos na noite do batuque, nas fogueiras e na projecção das enormes sombras dos corpos dos dançarinos.
 

Muito antes de chegar, lá ao longe… Puum, Puum, Puum… no silêncio de uma noite envolta num maravilhoso manto de estrelas, ouviam-se os sons e o eco dos gomas e dos tchinguvos (tambores) a chamarem os convidados.
 

A chegada foi edílica, e… talvez… assustadora.
 

Próximo das cubatas, no cercado da festa, ardiam as fogueiras, com fortes labaredas em espadas de fogo, onde se projectavam sombras fantásticas e gigantes agitados. Eram às centenas os vultos esbatidos a dançarem e a tocarem, ou a fumarem em silêncio a sua mutopa (cachimbo).
 

 

Os tocadores imprimiam um ritmo frenético aos seus tambores, que aqueciam periodicamente ao fogo, para retesarem ainda mais as peles que vibravam retumbantemente acelerando ainda mais o rodar dos dançarinos no louco rodopio do batuque.
 

Nada era feito ao acaso.
 

Ainda recordo as palavras do chefe da aldeia na sua voz forte, a dizer: Esta dança não pode acontecer sem as mulheres. Tudo é permitido, não há maridos nem esposas, unicamente homens e mulheres. Por conseguinte, quem tiver ciúmes que vá para casa ou se deixe ficar com as mulheres junto da fogueira. Deixem as rixas, as inimizades e os maus instintos lá fora, aqui, é só para comer, beber, fumar, dançar e gozar a vida com alegria e bom humor.
 

Hangane-nu cafema (dançai bem).
 

Numa grande roda, com homens de um lado e mulheres do outro, dançando e entoando uma monótona canção com um motivo musical que se repete indefinidamente, alternam no centro da roda, alguns homens, que se agitam de uma forma espantosa, e as mulheres, que se desdobram em formas corporais provocantes de movimentos circulares com o desejo a subir, e a crescer sempre.


Noite dentro, apareceram outras dançarinas, muito jovens, esbeltas, de seios firmes, parcialmente cobertas com um pano colorido (quitengue), solto ou preso à cintura, e ornamentadas nos braços e nas pernas com argolas e pulseiras feitas de minúsculas cabaças, produzindo um novo som, numa noite arrepiante, excitante e sensual.
 

É esse louco rodopiar do batuque que arrasta, uns para os maiores excessos de sensualidade e convida outros a ficarem acocorados junto à fogueira fumando silenciosamente a sua mutopa, sem pensarem no batuque ou até, a ficarem longe do mundo.


Foi, sem dúvida, uma noite vivida, uma daquelas inesquecíveis noites africanas, quentes e banhadas por estrelas como não há igual, de festa rija, misteriosa, ardente e agitada, onde todos, de uma maneira ou de outra, se divertiam.
 

Apesar de ser um militar conhecido, embora estivesse à civil, ninguém, em momento algum, me hostilizou. Fizeram jus à proverbial hospitalidade africana. Mesmo em tempo de guerra, aquele povo acolheu-me no seu seio de braços abertos e tratou-me exactamente como se fosse um seu membro. Enquanto lá estive, senti-me bem, participante e parte integrante daquela terra, como se tivesse ali nascido ou sempre vivido. Como em muitos outros dias, também nesta noite, senti África, vivi África e fui África.
 

 

A seguir - Mulheres de fogo

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 10.09.09 às 22:04link do post | favorito

Uma das facetas mais curiosas é a que é dada, como no texto anterior, pela chamada literatura oral e o modo como a contam, aqueles que a sabem contar.


É geralmente ao cair da noite, junto a uma fogueira e num jango ou tchota (penso que é este o nome), que se contam as melhores histórias, muitas nunca ouvidas, sobre homens, aventuras, animais, seres… e muita, muita invenção.

 


Quando contam, acompanham toda a narração com mil gestos e trejeitos como se estivesse a acontecer algo. O contador levanta-se, deita-se, salta, grita, emita animais e muitos outros sons.


É uma autêntica representação viva que acaba por envolver todos.


Foi neste jango que ouvi, da boca dos mais idosos, mais uma lenda oral Tchokwe sobre a sua ascendência divina.

 

 

Nzambi ou Calunga (Deus), depois de ter criado o Mundo mandou Samuto (homem) e Namuto (mulher) povoar a terra com os seus descendentes.


Entregou a Samuto uma enorme cabaça e um pequeno embrulho, com a recomendação de só os abrirem quando encontrassem uma grande serra.


Desconhecendo os seus sexos, Samuto e Namuto caminharam na Terra até ao Congo, onde encontraram a tal montanha indicada por Nzambi.


Samuto, abriu a cabaça e dela saíram todos os animais que deveriam povoar a Terra. O embrulho como cheirava muito mal lançou-o fora.
 

Namuto, ao saber o que tinha acontecido ao embrulho, censurou-o e exigiu-lhe que o fosse buscar.
 

Samuto, depois de várias tentativas, sem sucesso, foi ter com Nzambi, contou-lhe o que tinha acontecido e que estava muito arrependido. Nzambi, disse-lhe que voltasse à Terra, onde tinha deixado Namuto e levasse o cão até ao local onde tinha abandonado o embrulho, e aí o soltasse.


Samuto, assim o fez. Passado pouco tempo o cão apareceu com o embrulho na boca.


Samuto, ao mostrar o embrulho a Namuto, esta manifestou-se muito contente batendo-lhe no baixo-ventre. Como este se queixou com muitas dores, Namuto examinou-o, chegando à conclusão que eram diferentes.


Acabaram por ter um filha de nome Naconde, a qual veio a unir-se com um homem chamado Cassai, vindo não sei de onde, e cujos cinco filhos e três filhas deram origem aos actuais povos da Lunda.
 

A seguir - Batuque em Samuge

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 05.09.09 às 23:35link do post | favorito

Nos anos 70 a história de muitos povos africanos, ou não era conhecida, ou então, não a divulgavam.


Durante a minha passagem pela região do Alto Chicapa, tive a sorte de ouvir um pouco dessa história. A ausência de documentos era evidente e inquestionável, no entanto era sempre possível chegar à transmissão oral, passada de geração em geração, onde a palavra, a honra e a figura dos chefes (muatas) faziam fé.


No final de uns rotineiros cinco dias nas matas da margem direita do rio Cuílo, a que uns chamavam de patrulha e outros de operação militar, convidei o Sá Moço para beber uma cerveja na “loja do Capela”.

 


É em tempo de guerra que se limpam as armas, era… o que eu costumava dizer, mas por outro lado adorava os momentos de paz e uma boa conversa.

 


Enquanto as garrafas de cerveja se amontoavam numa mesa improvisada, com alguns convidados de ocasião a aparecerem, uns pela bebida, e não só, e outros para mais tarde relatarem toda a conversa ao Sr. Chefe de Posto, um jovem de borbulhas na cara como eu, ouvia coisas interessantes e os muitos modos de vida, o primo que estava na Jamba e costumava visitar as duas mulheres no quimbo, o sexo que era praticado obrigatoriamente de lado, a quase aceitação do adultério…
 

Sabia que estava entre um povo tradicionalmente muito reservado, mas era nestes momentos, um bocadinho antes de os olhos ficarem vermelhos, que todos eles se soltavam, nas conversas e… no rancor, se conheciam as suas intenções, o que tinham de bom, as muitas tradições e a imensa história.
 

Sem estar premeditado, perguntei ao Sá Moço se sabia quem eram os seus antepassados, quiôcos.


- Quiôcos não! Tutchokwe!


Depois de um pequeno silêncio, lá começou por dizer:
- Noutros tempos, o rio Congo (o nosso conhecido rio Zaire) era atravessado por povos vindos das montanhas, umas montanhas geladas, lá para norte, onde há um grande mar (a região dos grandes lagos).
- Os mais velhos também contam que as primeiras tribos a chegarem à Lunda, foram os Bungos, um povo de agricultores, pescadores e caçadores, e os Balubas, um povo errante de caçadores.
 

- Sá Moço! E o povo que já vivia na Lunda?
 

- Esses, são os filhos de Nzambi (Deus)!
 

- Continua! É muito interessante o que estás a contar.
 

- Então, a tribo dos Bungos, organizada em aldeias de famílias, cada uma com o seu chefe, obedeciam ainda a um chefe superior, o conhecido Xacala.
- Xacala, era um grande chefe! Dizem, que foi espancado pelos filhos! Antes de morrer, pediu a todos os chefes das aldeias para se manterem unidos e formarem um estado, reconhecendo como sua única herdeira e senhora das terras a sua filha Luégi, a quem deixava o Lucano, uma bracelete de braço, símbolo dos grandes chefes de sangue real.


- Luégi, que tudo indicava viesse a casar-se com um dos chefes, encontrou-se um dia com o caçador Ilunga, filho do chefe dos Balubas, com quem veio a casar. Da união nasceu o filho Noeji a quem foi dado o título de chefe Muatchianvua (senhor de todas as terras).


- Após o casamento de Luégi com Ilunga, os Bungos desuniram-se. Criaram-se muitas desordens tribais e aconteceram muitas dissidências.


- Muambumba, primo de Luégi, um dos descontentes, partiu com a sua comitiva para a região do Alto Chicapa, onde, próximo da nascente do rio Cassai, formou e tornou-se chefe de um novo reino, Tchiboco ou Tchokwe (quiôco).

 


Tudo o que ouvi e aqui contei diz respeito à tradição oral transmitida de geração em geração, tal como as nossas lendas. Como é óbvio, tudo isto é falível e talvez de informações incorrectas, mas foi assim que as ouvi, portanto é assim que as conto.


Ainda me lembro, muito bem, daquele fim de tarde, daquela mesa e ainda, de alguém acrescentar que os antigos eram guerreiros cruéis, dominavam e atacavam as outras tribos, assaltavam e saqueavam os povoados de onde traziam, como espólio, os haveres, e as mulheres e as crianças que reduziam a escravos. Aos homens vencidos cortavam-lhe a cabeça.
 

A seguir - Um contador de histórias

 

Carlos Alberto Santos

 


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publicado por Alto Chicapa, em 20.08.09 às 22:57link do post | favorito

Aqueles que leram o meu trabalho, Tchicapa, o final da viagem, certamente deram conta de algumas críticas e comentários.

 

Independentemente do juízo feito, procurei ser justo, e evitei a ficção.


Neste segundo trabalho, Conversas, com Sá Moço, elas vão voltar a aparecer, aqui e acolá, sempre sem intenções políticas ou de rancor.


As reflexões, deixo-as a outros mais doutos.
 

Como no primeiro trabalho, apresento-me tal como sou, com defeitos e a virtude de ser sincero e interessado com quanto se passou na nossa passagem por África, por vezes com desgraçados dias.
 

Os meus próximos textos, evitando a fixação psico-traumática, vão abordar a singeleza da vida, não esquecendo que sou, somente, um dos muitos militares milicianos que passaram por Angola e que a tais memórias dedica um olhar calmo e enternecido.
 

 

Em consequência, tratarei, a partir de hoje, de rebuscar recordações e conversas com um homem natural da região do Tchicapa, para, ao mesmo tempo que as partilho, lhes devolver alguma da antiga e perdida clareza.


Nas minhas muitas vidas (não de nascimento), entre sonhadas e verdadeiras, nos distantes anos da década de 1970, encontrei o Sá Moço, um homem katchokwe (quiôco) com cerca de 40 anos de idade. Um ser humano, auto-suficiente, que tinha falta de tudo, mas não sentia falta de nada.
 

 

 

Recordo-o com admiração.

 

Sem o ser, era engenheiro, médico, psicólogo, pisteiro, e… na maior das calmas e com muita inocência lá ia dizendo que o IN (inimigo) também precisava de ajuda, quando aparecia na aldeia.
 

Quem, algum dia, foi militar, costuma ser um pródigo contador de histórias, umas ligadas à guerrilha e outras, de coisas mais singelas, no entanto, nos textos que se seguem, vou escrever sobre a vida de um povo que foi importante na minha formação e me transformou num eterno enamorado da natureza e das coisas belas e boas que ela nos proporciona.
 

 

Enfim, vou escrever sobre, as minhas vivências com o Sá Moço, a vida no quimbo, as festas, os modos de vida e de figuras típicas que por lá encontrei, das muitas pessoas, boas e interessantes que conheci, e ainda, só um pouco, dos seres francamente racistas, grosseiros, brutos e porcos, que também os havia, e… que hoje, em 2009, à sombra da democracia e aproveitando a ingenuidade de muitos, aparecem, ora disfarçados de rambos ora de defensores da verdade, que lhes convém.
 

Termino com a seguinte frase: Em Portugal, cada ex-combatente que morre é uma biblioteca que se queima.
 

Carlos Alberto Santos

 

A seguir - Coisas e sensações do Leste de Angola

 


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