Em 1972, a mahamba, era, segundo a crença, a cerimónia mais necessária para libertar um doente de um espírito mau, que se tinha alojado no seu corpo para o fazer sofrer, ou matar.
Estas manifestações, anti-espíritos maus, eram, quase sempre, realizadas à noite.
Em redor das fogueiras, sentavam-se o invocador dos espíritos, o chamado homem da mahamba, o doente, a família e o povo que queria assistir. A um canto, estavam os tocadores de gomas e tchinguvos.
Entre manifestações de magia, com sinais de evasão terrena e um forte rufar de tambores, o homem da mahamba tirava de uma cabaça um medicamento, por ele preparado, e sempre ao som de um ribombar estrondoso, com os homens e as mulheres a dançarem numa evocação aos espíritos, o corpo do doente era pintado com o remédio.
A certa altura, entre os cânticos, as danças e as frases rituais do homem da mahamba, o doente levantava-se em estado de convulsão, a tremer da cabeça aos pés, a gritar, a dançar, a gesticular e com os olhos raiados de sangue, a saltarem das orbitas, num autêntico estado de possessão.
A certa altura, o doente, que mais parecia estar em estado de hipnose, diz com voz rouca e forte, como se fosse um outro a falar dentro dele, qual o espírito que o aflige. Imediatamente, alguns familiares, correm para junto dele e sem perderem tempo retiraram-no para um lugar recatado e afastado de toda a cerimónia.
Era um final esperado por todos, menos por mim!
Os restantes acontecimentos, já me foram contados à posterior. Os relatos, sempre medrosos, diziam, que o doente ia continuar com o corpo marcado com as pinturas da mahamba durante alguns dias e, que à porta de sua casa, num suporte próprio, ficava uma panela ou uma cabaça com os remédios e os amuletos que o ajudavam a melhorar.
A seguir - A morte
Carlos Alberto Santos