Angola / Alto Chicapa 1973
O chamado luto pesado durava quatro dias.
A viúva, rapava o cabelo, não se lavava e não mudava de roupa. A sua alimentação era feita à base de alimentos crus e água.
Durante um ano, isolava-se, vestia-se com alguns trapos enrolados ao corpo e não podia ter actividade sexual.
Decorrido este tempo, acontecia o chamado rito da purificação, que consistia em ter relações sexuais com um homem estranho à aldeia, para descarregar as suas impurezas. Quando não era possível encontrar um estranho usavam uma mulher mais velha que fazia o papel de macho. Utilizavam um tubérculo de mandioca, preparado para o efeito, numa cópula simulada e realizada junto às margens de um rio. Depois de tomar um banho purificador, a viúva ficava liberta, podendo casar-se novamente.
Depois dos actos purificadores, realizava a cerimónia do fim do luto, junto dos seus familiares e de toda a gente da aldeia. Era um dia cheio de cantares, danças, comidas e muitas bebidas alcoólicas.
Quando era o homem a ficar viúvo, tudo era mais complicado.
Tinha de indemnizar a família da morta e era, sempre, acusado de negligência, de maus tratos e de ser o responsável.
Durante o luto pesado o viúvo dormia fora de casa, não cortava a barba e o cabelo, e andava vestido com panos amarrados à cintura.
A purificação acontecia, de um modo igual ao da viúva. Depois de um ritual sexual com uma mulher estranha ou através da masturbação, banhava-se no rio e bebia uma infusão preparada pelo tahi (adivinho).
Naquela época, o mundo dos quiôcos, era uma sociedade cheia de valores, até na morte. Esta, significava o fim da força vital de um ser humano, e por este ser considerado como um elemento integrante da comunidade, a aldeia sentia-se atingida.
(A seguir - As núpcias)
Carlos Alberto Santos